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O arriar das cordas e um possível novo cenário do carnaval-negócio

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As cordas, ou melhor, o arriar das cordas, foi o hit do carnaval baiano de 2012. Em artigos, editoriais, declarações, entrevistas e conversas de fim de festa, artistas, empresários da festa, jornalistas, foliões, políticos e dirigentes de órgãos públicos saudaram, empolgados, com argumentos nem sempre coincidentes, o arriar das cordas protagonizado por algumas das estrelas da música carnavalesca baiana.

Compreensível. Faz tempo que as cordas, de presença antiga na folia mas, agora, reinventadas como negócio, e mais recentemente também os camarotes, passaram a representar a privatização desenfreada dos espaços da festa. Daí as críticas. Daí, também, o desejo generalizado de vê-las arriadas.

Mas aqui é preciso separar, e sem trocadilhos, os argumentos e análises que alimentaram, e vão continuar alimentando, o debate sobre o arriar das cordas. Ou seja, é preciso entender no que pode dar este arriar das cordas. Por um lado, ou melhor, para os que estamos do lado de fora das cordas (mais de 60% dos foliões), o simples arriar das cordas já é suficiente. Significa uma vitória, a reconquista, real e simbólica, de territórios perdidos para o negócio ao longo dos últimos anos. Vai dar em mais carnaval.

Já quanto aos grandes empresários do carnaval-negócio, um grupo bastante restrito que hegemoniza a organização da festa, vejo o arriar das cordas em chave distinta daquela que satisfaz a nós foliões.

Para estes empresários – os grandes, repito, pois os de médio e pequeno porte atuam nas franjas do negócio e têm pouca capacidade de influenciar os rumos do mercado – o arriar das cordas sinaliza uma possível e muito provável reorganização do modelo de negócio da festa.

Não tenho números, escondidos que são a sete chaves pelo negócio, desconhecidos (ou também escondidos) que são do (pelo) poder público – é o caso do governo municipal, que costuma inventar alguns, invocando pesquisas que nunca publicou e desprezando as realizadas pela Secretaria de Cultura do Estado nos últimos anos, e esconder outros, por exemplo, os que resultam da tributação do negócio – pelo que se sabe, mal tributado, ou melhor, (muito bem) tributado em favor dos grandes (a Prefeitura, que não fiscaliza blocos e camarotes como devia, reduziu, este ano, o espaço tributável dos camarotes, o que resultou numa economia de 30% nas taxas e tributos municipais pagos pelos empresários) e desfavor dos pequenos (afoxés, pequenos blocos, vendedores ambulantes não experimentaram qualquer tipo de renúncia fiscal).

Mas, mesmo sem os números, arrisco um possível cenário para o desenvolvimento deste novo modelo do negócio carnavalesco que se avizinha:

- os camarotes passam a condição de carro-chefe do negócio – com efeito, este equipamento caminha rapidamente para ser o produto mais rentável da festa, desbancando os blocos, até agora o produto-símbolo do carnaval-negócio, muito caros por conta dos custos com equipamentos (trio elétrico), logística (particularmente, a segurança) e atrações artísticas (bandas e cantores); 
- todavia, como os camarotes, em que pesem os serviços sofisticados que oferecem, dependem da festa que acontece na rua, ou seja, do trio elétrico e suas estrelas,
- entra em cena a defesa intransigente da manutenção, sem qualquer mudança, do circuito Barra-Ondina, mercado por excelência para os grandes blocos (com suas estrelas) e camarotes – aqui, as cordas permanecem até quando houver mercado para abadás; e 
- no circuito da Avenida, é acionada a "generosidade" dos blocos que, ao arriarem as cordas, não só continuam a contar com os patrocinadores privados, atores certamente atentos ao apelo simbólico deste gesto, como passam também a receber injeções de dinheiro público sob a capa de "projetos especiais". Resulta deste cenário, claro, uma concentração ainda maior do mercado da festa. Mercado que neste cenário divide-se em dois: um, o do circuito da Avenida, caracterizado por entidades carnavalescas de médio e pequeno porte e baixa rentabilidade; o outro, no circuito Barra-Ondina, dominado pelos negócios dos camarotes e grandes blocos, de altíssima rentabilidade. Uma economia pobre; a outra, rica.

Resulta, também, numa redução dos recursos que deveriam ser canalizados para garantir a presença na festa dos muitos artistas – Moraes Moreira, Luiz Caldas, Paulinho Boca de Cantor, Gerônimo, Lazzo, etc. – e trios elétricos – Armandinho, Dodô e Osmar, Tapajós, etc. – que ocupam posição marginal na busca por patrocínios e que, neste cenário, terão que disputar o apoio público com as grandes estrelas.

Mais assustador que este possível cenário é, contudo, o papel desempenhado pelo governo municipal. Papel de absoluta irresponsabilidade. Especificamente quanto ao arriar das cordas, contenta-se em aplaudir a "generosidade" do mercado, "generosidade" que batizada com o enganoso nome de "projetos especiais" já financia, e, suprema candura, a torcer para que no próximo carnaval mais empresários fantasiados de Papai Noel arriem as cordas e "resgatem" o "verdadeiro carnaval".


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